Cap. 79
— Coloque seu amigo ali, na pele de alce. – indica a avó de Cobra Traiçoeira, ainda falando em Siksikáí'powahsin.
— Afinal, quem é essa velha? – pergunta Wayne.
— É minha avó. – apresenta Cobra Traiçoeira. — Na sua língua, o nome seria Raposa da Noite.
— Noite da Raposa. – corrige a senhora, batendo no neto com um bastão decorado com símbolos entalhados.
Cobra abaixa respeitosamente a cabeça: — Isso, Noite da Raposa. Minha avó cuida das pessoas e dos espíritos.
Wayne, tentando ensinar aos nativos: — Ah! Ela é o padre de vocês.
— Não! – responde rapidamente com a voz fina e olhos arregalados o indígena. — Nada de padres! Nossos guias são os áípi’kssokinakiiksi, mas minha avó não é um deles.
— Diga a ele porque não sou o áípi’kssokinaki da aldeia. — ordena a senhora com voz indignada enquanto apanha ervas secas em um pote.
— Eanumehmem. – murmura Cobra, novamente com a cabeça baixa.
Wayne: — Hã?
— Fale direito! – bronqueia a mulher, enfatizando a ordem com um tapa na nuca do neto.
Cobra, mais compreensível, mas ainda bem baixo: — Ela não é homem.
Noite: — E?
Cobra: — Mulher não pode ser líder, nem mesmo espiritual.
Noite: — Por ordem de quem?
Cobra: — Dos Grandes Espíritos.
— Há! – desdenha a senhora. — Por ordem do seu avô, Rocha Preta.
— Faz sentido. – concorda Wayne para desespero de Cobra Traiçoeira.
Noite da Raposa se aproxima, olha Wayne nos olhos carregada de uma indignação que, aos poucos, vai se transformando em ternura.
— Ele é confuso. – avalia ela, em siksikáí'powahsin. — E tão esperto quanto um urso que procura mel enfiando a cara em um formigueiro.
— Menos que isso. – concorda o neto, na mesma língua.
Noite da Raposa, se dirigindo, em inglês, para o xerife: — Você poderia fazer um favou a essa velha?
Wayne, feliz em voltar a entender o que estão falando: — Claro!
Noite: — Siga a trilha das flores amarelas até o riacho e encha esse balde com água. Por favor. Wayne pega o balde e se retira.
— Lembro quando era para mim que você pedia essas pequenas tarefas - comenta um nostálgico Cobra Traiçoeira.
Noite: — É verdade. Nada melhor que uma tarefa simples para ocupar quem atrapalha.
A doce senhora continua: — Aliás, você poderia fazer um favor para sua velha avó?